Da conexão discada à fibra e ao espaço - a evolução silenciosa da internet

Anderson Previatti • 6 de outubro de 2025

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No final dos anos 1990, vivi uma das experiências mais marcantes da minha trajetória com tecnologia.


Naquele tempo, trabalhávamos na Merconet, um dos primeiros provedores de internet do Estado de São Paulo, quando o acesso à rede ainda era uma novidade cercada de curiosidade e improviso.


A cada chiado do modem, sabíamos que algo extraordinário estava acontecendo - estávamos nos conectando - não apenas a uma rede, mas a uma nova era da comunicação humana.


Essa vivência moldou uma geração que aprendeu, na prática, o que significava “conectar-se”.


Da
Merconet, trouxemos mais do que experiência técnica - trouxemos uma percepção de mundo.


E é a partir dessa lembrança que reflito hoje sobre o quanto evoluímos - do barulho metálico da conexão discada ao silêncio absoluto da fibra óptica, até o brilho distante das conexões via satélite que hoje circundam o planeta.


A chegada da internet comercial

A internet comercial nasceu nos anos 1990, ainda tímida, limitada e cheia de mistério.


Era o tempo dos provedores locais, dos cabos telefônicos enrolados, das madrugadas conectadas no “pulso único” e da sensação mágica de abrir uma página pela primeira vez.


Empresas como AOL, UOL, Terra, iG e diversos provedores regionais, como a Merconet, foram os pioneiros dessa transformação.


Eles trouxeram para dentro das casas algo que antes só existia em universidades e centros de pesquisa - a possibilidade de se comunicar globalmente.


Naquela época, cada acesso era um pequeno evento.


Conectar significava ocupar a linha telefônica da casa, torcer para ninguém atender o telefone e esperar, com paciência, o som do modem anunciar que o mundo estava prestes a se abrir diante da tela.

Uma reflexão sobre a transição da internet discada à fibra óptica e à era dos satélites, como a Starlink, e sobre o início dessa jornada em um dos primeiros provedores do Estado de São Paulo.

O som que nos conectava

O modem dial-up fazia parte do ritual da conexão.


Seu chiado, seus estalos e apitos eram quase uma música de entrada para um universo novo.


Aquele som era o símbolo de uma era em que a internet ainda tinha presença física - fios, ruídos, esperas e paciência.


Quando o modem completava o handshake - aquela pequena dança entre duas máquinas tentando se entender - havia uma sensação única - estávamos online.


E, naquele instante, a distância entre continentes parecia desaparecer.


Hoje, quem nasceu já na era da fibra talvez nunca tenha sentido o significado daquele som.


Mas, para nós, ele era o som da descoberta.


Era o ruído da curiosidade em movimento, o som do futuro chegando, bit a bit, pela linha telefônica.


Os provedores e a primeira geração digital

Os provedores de internet foram mais do que empresas - foram o primeiro elo humano entre o mundo físico e o digital.


Eles nos ensinaram que tecnologia é feita de gente.


Por trás de cada servidor, de cada IP e de cada e-mail enviado, havia pessoas tentando entender um universo que estava sendo criado em tempo real.


Os portais da época - com notícias, fóruns e salas de bate-papo - foram os primeiros espaços sociais da era digital.


E foi ali, entre as janelas do ICQ e os primeiros sites estáticos em HTML, que uma geração aprendeu o valor da comunicação em rede.


Os provedores locais, como a Merconet, tinham um papel quase artesanal. Cada conexão era configurada manualmente, cada usuário atendido com paciência.


Era um tempo em que a tecnologia exigia mais esforço, mas também mais significado.


O silêncio da fibra óptica

Com a chegada da fibra óptica, entramos em uma nova fase.


Os impulsos elétricos se transformaram em
pulsos de luz, viajando a velocidades próximas à da própria natureza.


O barulho do modem desapareceu, e o ato de conectar perdeu o som, mas ganhou velocidade.

Hoje, a conexão é instantânea, invisível e constante.


Já não “entramos na internet” -
vivemos dentro dela.


Os cabos de fibra cruzam oceanos, conectando continentes inteiros em milissegundos, enquanto nós seguimos nossas rotinas sem sequer perceber a complexidade por trás desse silêncio.


O que antes era uma escolha - conectar-se - tornou-se uma condição.


Estamos sempre online, e, paradoxalmente, quanto mais silenciosa a tecnologia, mais profunda é a nossa dependência dela.


Do fio ao céu - a era dos satélites

Enquanto a fibra se expandia debaixo da terra e dos mares, o céu também começou a se tornar parte da rede.


As conexões via satélite, antes restritas e lentas, evoluíram até se tornarem uma das maiores promessas de conectividade global.


Hoje, com sistemas como a Starlink, milhares de satélites orbitam o planeta em baixa altitude, enviando e recebendo sinais que levam internet a lugares antes inalcançáveis.


Do alto da atmosfera, essas redes criam uma malha invisível que cobre o mundo inteiro.


Penso que, se nos anos 1990 lutávamos para fazer uma linha telefônica se conectar a um provedor local, agora estamos literalmente ligando o planeta inteiro ao espaço.


O fio virou feixe, e o barulho virou luz.


É a mesma essência - conectar - mas em outra escala, mais ampla e silenciosa.


Do barulho à luz - a metáfora da evolução

O som do modem e o silêncio da fibra são metáforas perfeitas da nossa trajetória.


O barulho representava a
tentativa, o aprendizado, o improviso. O silêncio representa o domínio, a maturidade e a fluidez.


A cada salto tecnológico, o ruído vai diminuindo. As máquinas ficam mais discretas, os processos mais automáticos, e a presença humana, mais sutil.


Mas, no fundo, o propósito continua o mesmo -
buscar conexão. Entre o barulho e o silêncio, o que permanece é o desejo humano de entender, comunicar e construir.


O modem nos ensinou a esperar - a fibra, a confiar - e o satélite, a sonhar mais alto.


Reflexão final

Trabalhar no início da internet comercial foi mais do que testemunhar um avanço tecnológico - foi participar da fundação de uma nova forma de viver.


Naquele tempo, o som da conexão nos lembrava que a rede era feita de esforço humano. Hoje, o silêncio da fibra e a precisão das conexões via satélite mostram o quanto amadurecemos tecnicamente.


Mas ainda carrego comigo a mesma sensação de quando ouvia o modem completar sua sinfonia metálica - a de que cada conexão é uma ponte entre mundos.


A diferença é que, agora, essas pontes atravessam oceanos, nuvens e até o espaço. A internet deixou de ser um lugar para se tornar parte da própria realidade.


E talvez a verdadeira evolução não esteja na velocidade da conexão, mas na
profundidade das relações que ela nos permite construir.


Porque, no fim, o barulho passou, mas a conexão - essa continua.

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