Inteligência artificial - o que é, tipos e como entender além do hype

Caio Brito • 6 de outubro de 2025

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Falar sobre Inteligência Artificial (IA) é entrar em um território imenso, que mistura tecnologia, filosofia, psicologia e até ontologia.


Sempre que começo a explicar o assunto, percebo que ele não cabe em respostas rápidas.


Mas também entendo que é possível traduzir esse universo de forma clara e objetiva para quem quer entender o que a IA é de fato, quais são os seus tipos e por que precisamos olhar para além do hype.


O que escrevo aqui não é apenas técnico.


É um esforço para dar sentido à tecnologia que hoje invade o nosso dia a dia.


Da IA mais limitada ao sonho da superinteligência artificial, passando pelas famosas IAs generativas como o ChatGPT, o objetivo é mostrar um mapa - um “planeta IA” com seus continentes e países - para que qualquer pessoa possa se localizar.


O que é Inteligência Artificial

Antes de tudo, precisamos entender as palavras.


O que é inteligência?


Em termos gerais, é a capacidade cognitiva de perceber, raciocinar, processar informações e reagir a elas de forma adaptativa.


Mas a inteligência humana não é apenas lógica - ela é emocional, sensorial, social.


Envolve empatia, motivação, capacidade de relacionamento.


Essa pluralidade é difícil de capturar numa máquina.

Inteligência Artificial - O que é e como entender suas variedades

E o que é artificial?


É aquilo que não é natural, que foi construído.


Quando falamos de inteligência artificial, estamos assumindo que a inteligência pode ser produzida fora da biologia.


Mas isso já é, em si, um ponto de debate filosófico.


Será que é possível recriar algo que evoluiu durante milhões de anos de experiência sensorial, corporal e social apenas com dados e algoritmos?


Por isso, mais do que técnica, IA envolve epistemologia - como sabemos o que sabemos - e ontologia - como classificamos o que existe.


Os quatro tipos principais de IA

Quando falamos em IA, precisamos separar o conceito em níveis ou tipos.


Hoje costumo explicar em quatro grandes categorias:


1. IA Limitada (Narrow AI ou ANI)

É a IA especializada, programada para executar tarefas específicas.


O inimigo de um jogo que segue regras predefinidas, um sistema que reconhece imagens de gatos, um algoritmo que recomenda filmes.


É poderosa no que faz, mas não pensa fora do escopo para o qual foi criada.


2. IA Geral (Artificial General Intelligence ou AGI)

É o sonho de criar uma IA capaz de aprender e raciocinar em múltiplos domínios como um ser humano.


Ela ainda não existe.


Seria uma máquina que, ao aprender xadrez, também pudesse usar esse raciocínio para dirigir um carro ou escrever poesia.


3. Superinteligência Artificial (Artificial Superintelligence ou ASI)

É a hipótese da “singularidade”.


Uma IA mais inteligente que qualquer ser humano, capaz de evoluir sozinha.


Estamos muito longe disso - e, ao mesmo tempo, é aqui que surgem os debates mais intensos sobre ética, controle e risco existencial.


4. IA Generativa

É o tipo mais falado hoje.


Diferente da IA determinística, que sempre dá a mesma resposta para a mesma entrada, a IA generativa aprende com grandes massas de dados e cria novas instâncias - textos, imagens, sons, códigos.


O ChatGPT é o exemplo mais popular, mas não é “a IA suprema”: é apenas um “país” dentro do “continente” da IA generativa, que por sua vez está dentro do “planeta IA”.


Determinística x Generativa

A IA determinística segue entradas fixas e gera saídas previsíveis.



Por exemplo: um algoritmo que pinta sempre de azul quando recebe o comando “pinte de azul”. Já a IA generativa não apenas executa comandos, mas aprende padrões com dados e gera algo novo.


Ela não é mágica - apenas uma forma sofisticada de estatística e probabilidade aplicada em escala massiva.


É importante entender isso porque o hype atual pode fazer parecer que a IA generativa é uma “IA máxima”.


Não é.


Ela é apenas um braço dentro de um ecossistema muito maior.


Redes neurais e processamento de linguagem natural

Quando falamos de IA generativa, especialmente em textos, falamos de Processamento de Linguagem Natural (PLN).


É uma subárea da IA focada em ensinar máquinas a entender, interpretar e gerar linguagem humana.


As redes neurais artificiais, inspiradas no funcionamento do cérebro, são o motor disso tudo.


Elas recebem dados, ajustam “pesos” (as conexões internas) e aprendem a reconhecer padrões.


Mas, apesar do nome, elas não “sentem” nem “vivem” - apenas calculam.


A IA não sente o mundo

Enquanto nós aprendemos pelo corpo - visão, tato, cheiro, emoção - a IA aprende por dados.


Ela não sabe o que é o azul do céu ou o calor do toque. Ela pode mimetizar padrões, mas não vivências.


Explicar cores a uma IA é como explicar cores a alguém que nasceu cego - pode haver representação, mas não experiência direta.


Isso significa que, por enquanto, a IA está longe de “pensar” ou “sentir” como nós.


Ela é um mimetismo da vida, não a vida.


IA fraca x IA forte

Essa é outra distinção importante:

  • IA fraca - sistemas criados para tarefas específicas, inspirados por teorias cognitivas, mas sem consciência. É a IA cotidiana dos aplicativos, robôs e algoritmos.
  • IA forte - a ambição de construir máquinas que realmente pensam e sentem como humanos. A IA forte implica considerar o ser humano como um “computador biológico” e replicar esse modelo em máquinas.


Por enquanto, tudo que usamos é IA fraca - por mais impressionante que pareça.


IA e psicologia - um diálogo inevitável

Para construir IA, precisamos entender como pensamos. É por isso que IA e psicologia se encontram.


Assim como um desenvolvedor precisa compreender contabilidade para criar um sistema fiscal, quem desenvolve IA precisa compreender processos mentais para modelar comportamentos.


Mas há uma diferença fundamental: a psicologia estuda o ser humano para ajudar o ser humano.


A IA estuda o ser humano para construir máquinas.


E é aí que surgem os dilemas éticos, filosóficos e até metafísicos.


Ontologia, hermenêutica e objetos

Quando falamos em IA, falamos também em ontologia - classificar os tipos de coisas que existem para que a máquina entenda o mundo.


É como criar classes e objetos em programação: transformar a realidade em instâncias manipuláveis.


Mas há quem argumente que isso não é suficiente.


Que a experiência humana não pode ser reduzida a objetos e atributos.


Aqui entra a hermenêutica - a ideia de que o significado emerge do contexto, não de regras fixas.


Essa tensão - entre classificar e interpretar - é um dos maiores desafios para que a IA saia do mimetismo e se aproxime da cognição real.


Inteligência Artificial e Algoritmos

Falar sobre Inteligência Artificial é muito mais do que listar algoritmos. É falar de limites, de definições e de futuro.


Hoje convivemos com IAs limitadas, determinísticas e generativas, que aprendem com nossos dados mas não com nossa experiência.


Elas não sentem, não vivem, não têm corpo.


São ferramentas poderosas, mas ferramentas.


O sonho da IA geral e da superinteligência artificial ainda está no horizonte.


Se um dia chegarmos lá, teremos de repensar o que é inteligência, consciência e até humanidade.

Enquanto isso, é fundamental compreender o que estamos usando agora - para não cair no hype e para usar a IA de forma ética, crítica e construtiva.


Afinal, inteligência - seja natural ou artificial - não é apenas processar dados.


É dar sentido ao mundo e saber expressá-lo.


E isso, por enquanto, continua sendo uma habilidade humana.

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