O risco do desenvolvimento de softwares com inteligência artificial

Caio Brito • 8 de outubro de 2025

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Nos últimos anos, o desenvolvimento de software entrou em uma nova era.


Com a chegada das inteligências artificiais generativas, tornou-se possível escrever código em minutos, gerar interfaces completas, documentações, testes e até arquiteturas inteiras.


O que antes levava meses, agora parece surgir de um único prompt.


Mas, ao observar essa transformação de dentro, percebo que a velocidade da criação nem sempre caminha com a solidez da engenharia.


Estamos construindo sistemas cada vez mais rápidos, mas nem sempre mais seguros, sustentáveis ou compreensíveis.


E é aqui que nasce um risco silencioso: o colapso dos softwares criados sem estrutura.


A promessa e o perigo da automação no desenvolvimento


A inteligência artificial trouxe uma promessa tentadora - o desenvolvedor não precisaria mais "escrever" cada linha, mas "descrever" o que quer.


A IA traduziria a intenção em código.


E de fato, isso funciona.


Ferramentas de autocompletar, geração de scripts e refatoração automática já estão no cotidiano de quem programa.


Só que o mesmo poder que acelera, também amplifica erros, dependências e vulnerabilidades.



O desenvolvimento acelerado de softwares com IA é promissor, mas pode colapsar sem engenharia, segurança e controle de crescimento. Entenda por quê.

Hoje, muitos softwares são criados por meio de prompts genéricos, sem documentação, sem arquitetura formal e sem versionamento consistente.


Eles funcionam - até deixarem de funcionar.


E quando isso acontece, ninguém sabe ao certo onde, quando ou por quê.


A ilusão da entrega rápida

O mercado vive um paradoxo.


Projetos que antes levavam meses para entregar um MVP agora podem ser lançados em semanas.


Mas esse ganho aparente de tempo traz uma dívida invisível:
a dívida técnica.


Softwares nascem sem documentação, sem estrutura modular, sem plano de escalabilidade.


Modelos de IA geram códigos que se encaixam, mas não necessariamente se sustentam.

E com o passar do tempo, cada nova atualização se torna mais instável, até que o próprio sistema entre em colapso.


Vejo isso se repetir em startups, empresas e até produtos corporativos:
códigos duplicados, integrações frágeis, dependências não mapeadas, APIs sem autenticação robusta.


Tudo funciona enquanto o contexto é pequeno.


Mas à medida que o software cresce, ele se torna o próprio obstáculo.


Crescimento sem controle - o risco da entropia digital

O crescimento de um software sem engenharia é como o de uma cidade sem urbanismo.


Cada nova rua é aberta em qualquer direção, cada casa construída sem planta. No começo, parece funcional. Com o tempo, vira um labirinto.


O mesmo vale para o software.


Sem arquitetura, governança e controle de dependências, o sistema se torna entropicamente instável.


Cada nova função introduz pequenas falhas que se somam, acumulando inconsistências até o ponto em que o código se torna inviável de manter.


A IA  pode acelerar esse processo.


Por gerar soluções rápidas e fragmentadas, ela estimula um crescimento horizontal - adição sobre adição - em vez de vertical - aprimoramento com base sólida.


O resultado é um crescimento sem controle e sem sentido de coesão.


A engenharia como bússola

Por isso, a engenharia de software nunca foi tão essencial.


Mesmo que pareça mais lenta, ela é o que garante a sustentabilidade do que criamos.


Engenharia não é sobre escrever código, mas sobre pensar o sistema como organismo.


É sobre prever comportamento, escalabilidade, resiliência, interoperabilidade e segurança. É sobre entender que cada componente se comunica com outro e que qualquer mudança exige responsabilidade.


A IA pode escrever código, mas não compreende intenção arquitetural.


Ela não entende abstração de domínio, não prevê riscos de versionamento, nem as implicações legais de um endpoint exposto.


Quem entende isso é o engenheiro - o humano que ainda enxerga além da sintaxe. Por isso, o futuro do desenvolvimento não será humano ou artificial, mas simbiótico.


A IA auxiliará nas tarefas repetitivas, enquanto a engenharia continuará guiando o propósito e a segurança do projeto.


Segurança e ética - os novos pilares

Outro ponto crítico é a segurança.


Modelos de IA treinados em dados públicos podem replicar vulnerabilidades conhecidas ou gerar códigos inseguros por padrão.


Afinal, eles aprendem com o que está disponível - e nem todo código disponível é bom código. Além disso, há a questão da privacidade dos dados.


Ao enviar informações sensíveis para sistemas de IA externos, muitos desenvolvedores acabam expondo credenciais, estruturas internas e até segredos industriais.


A pressa em automatizar está fazendo o mercado abrir as portas do backend para o desconhecido.


A engenharia de software, ao contrário, trabalha com princípios claros de segurança, versionamento e rastreabilidade.


Ela garante que o sistema possa ser auditado, atualizado e mantido com consistência.


A lentidão necessária

A lentidão da engenharia é, na verdade, o seu maior valor. Ela representa o tempo do raciocínio, do planejamento e do controle.


O mesmo tempo que impede colapsos e garante evolução sustentável. A pressa de entregar não substitui o cuidado de construir.


Em um mundo onde a IA promete velocidade, a engenharia continua sendo a guardiã da coerência e da continuidade.


Softwares não precisam apenas nascer - precisam envelhecer bem.


E isso exige um ciclo de vida controlado, revisões constantes e atualizações planejadas.


Colapsos à vista

A tendência, infelizmente, é que vejamos muitos colapsos nos próximos anos.


Softwares criados às pressas, baseados em modelos automatizados, sem documentação nem controle de dependências, começarão a falhar.


Sistemas inteiros podem parar não por erro humano, mas por ausência de engenharia.


A mesma IA que hoje acelera entregas será também a causa de grandes quedas.


E quando isso acontecer, o que restará serão desenvolvedores tentando entender códigos que ninguém escreveu de fato - apenas solicitou.


O equilíbrio entre inteligência e estrutura

Não sou contra o uso da IA no desenvolvimento - pelo contrário. Acredito que ela é uma das ferramentas mais revolucionárias que já tivemos.


Mas também acredito que a revolução sem método é apenas ruído.


A engenharia é o mapa que evita o caos. A IA é o motor que impulsiona o movimento.


Juntas, podem transformar o mundo do desenvolvimento.


Separadas, correm o risco de destruir o próprio ecossistema que tentam melhorar.


Futuro, desenvolvimento de software e velocidade

O futuro do desenvolvimento de software não será definido apenas pela velocidade, mas pela maturidade com que equilibramos inteligência e estrutura.


A IA pode ser a ponte entre intenção e execução, mas é a engenharia que constrói o caminho.


Enquanto o mundo se encanta com a entrega rápida, continuo acreditando na importância do processo - no código revisado, na arquitetura planejada, na segurança validada.


Porque construir software é, acima de tudo, um ato de responsabilidade com o futuro.

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